sexta-feira, 29 de agosto de 2008

É isto que sinto

Na cidade dormitório
Onde o sol se põe cinzento
E o bel-canto da cigarra
Jaz mudo sob o cinzento

Quando a noite cai sombria
Com seus ténues lampadários
Luzindo na simetria
Dos novos bairros operários

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio

Pinto apelos em murais
Esfumo a noite em olheiras
Deslizo na hora do lobo
Sigo o rastro das padeiras
Afio as minhas armas brancas

Nas esquinas de metal
Cravo-as bem fundo nas ancas
Da cintura industrial

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio

Silva a hora do comboio
Treme na erva o orvalho
Corações da outra banda
Apressam-se para o trabalho

Com olhos mal acordados
Brilho vestido ao contrário
Como peixes alucinados
Às voltas no seu aquário

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio


Rui Veloso

Sem comentários: