terça-feira, 23 de setembro de 2008

Sem pedir nada

Ela é a primeira e única amiga. Assim no sentido literal da palavra. Mesmo com a timidez que me faz corar sem razão, sempre fiz muitos conhecimentos, mas nunca consegui passar à verdadeira amizade. Também muito por culpa da minha desconfiança e reserva quanto à minha vida. Mas ela é diferente. Não nos conhecemos desde os seis anos de idade, não brincámos juntas na rua, nem partilhámos as primeiras histórias e 'desaires' amorosos, nem a mesa da escola.
Mas teria sido bom, com toda a certeza. Compartilhar com ela a adolescência, as saídas à noite, as refeições às 3 da manhã só porque nos apeteceu, os cigarros, as pastilhas, a troca de roupa, o jogo do bate-pé... Como se os sonhos não nos coubessem nas mãos.
Cruzámo-nos profissionalmente há uns anos e nada mais que isso. Mas a profissão havia de nos juntar outra vez e aí sim. Agora posso dizer que somos cúmplices. Aliás, ela não é uma pessoa difícil de agradar. A humildade, a sinceridade e a simplicidade que a caracterizam provam isso mesmo.
Os segredos e desabafos que tantas vezes quase nos sufocavam à espera de serem revelados, são agora partilhados. Sem juízos de valor. Mesmo já estando nos "intas" acabamos por partilhar aquilo que parecem ser dúvidas existenciais - talvez comuns a tanta gente - e até algumas lágrimas. De dor, de amor, de injustiça, de felicidade.
Quando o telemóvel toca bastante cedo sei que é ela. Porque acordou com uma sensação estranha e quer apenas saber se está tudo bem. Eu digo sim e pronto.
Fui a primeira a saber que ia ser mãe e só não aconteceu também comigo porque o M. estava lá.

Ela é A amiga. Por tudo o que escrevi e não escrevi, porque há coisas que fazem tão parte de nós que não há palavras que as descrevam.

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